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Várias vezes me perguntam por que eu sou tão apaixonado por andar de moto e eu respondo de diferentes maneiras, sempre procurando deixar claro que para mim funciona como uma filosofia de vida, porque encontrei respostas fundamentais para as questões da vida, no âmbito pessoal e corporativo, depois que aprendi a meditar sobre duas rodas.
Meditar enquanto anda de moto? Como assim?
Eu explico.
Quando viajo com grupos de amigos motociclistas, dias antes da viagem nós planejamos tudo em 4 ou 5 reuniões antes de acontecer o evento. Muitas vezes, nós optamos por repetir alguns destinos com o objetivo de explorar novas possibilidades ou porque de fato curtimos muito e deixou saudade.
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Nesses percursos já conhecidos, muitas vezes ficamos até oito horas em estradas com visuais lindos, a uma velocidade entre 100 e 70km/hora, vendo coisas bonitas, que tocam a alma e fazendo aquilo que gostamos.
Não tem como ficar pensando em problemas e sim em soluções, coisas positivas e é isso que eu considero como “meditação’.
Pois bem, a inspiração desse tema surgiu em função de um vídeo, que recebi pelo WhatsApp essa semana e que me despertou a atenção porque falava de moto de uma forma muito emocionada, similar a que eu falo e vocês sabem, andar de moto, na minha opinião, é uma das melhores coisas na vida.
Gostei tanto da mensagem que resolvi fazer uma pesquisa mais apurada e acabei descobrindo que o conteúdo do vídeo havia sido retirado de uma entrevista com a Monja Coen, gravada em 2011, aproveitando o trecho onde a monja fazia analogias entre a moto e a vida.
Monja Coen, que atualmente é líder da Comunidade Zen Budista Zendo do Brasil e foi uma das primeiras mulheres a pilotar moto no Brasil, explanou um ponto de vista que ilustra muito bem a integração que eu tenho com a minha moto, por isso resolvi transcrever a sua fala aqui no blog, em primeiro plano porque acho que as palavras escritas expõem as ideias com maior clareza, e em segundo, para que vocês possam também desfrutar desse pensamento de uma singeleza ímpar e que demonstra tanta sabedoria da vida.
“Quilômetro por quilômetro, instante por instante.
A moto tem muito isso, você tem de estar inteiro, com atenção permanente. Você e a moto tem de se tornar um corpo só, e não uma dualidade.
Se você pensar que é você e a moto, você cai. Tem de pensar que é uma coisa só.
E prestar muita atenção porque você está em contato com o vento, sem proteção. Justamente por isso, seu estado de alerta tem de ser maior.
As pessoas estariam mais saudáveis se andassem de moto porque é necessário um controle – e isso faz muito bem para o corpo e para a mente. A moto exige muita consciência.
O que a moto tem de similar com a meditação é que você não pode ficar guiando a moto divagando, pensando em problemas e dificuldades. Tem de esvaziar a mente, e isso não significa ficar sem nada na mente, e sim estar com ela aberta para as inúmeras possibilidades.
Eu costumo dizer que a plena atenção, na meditação, é como uma lente grande-angular, que não tem foco único, mas está aberta a todas possibilidades. Ela não vai focar somente você, e sim todo o ambiente ao seu redor. E mesmo assim você estará em foco perfeito. Este é o foco que a moto exige: o foco do meu caminho, da direção e de tudo que há à volta.
A moto é como a vida.
É ela que diz a você quando mudar a marcha, você não escolhe. Tem de ficar em sintonia com ela. E essa é a sintonia que a gente tem de ter com a vida.
Quando é que eu não posso acelerar?
Quando é que devo ir mais devagar?
A moto é uma filosofia de vida. Se você não ouvir e sentir, cai. Existe uma frase no budismo que diz assim: “Vá reto por uma estrada cheia de curvas”. As pessoas pensam que você vai entrar na curva e se matar, mas não é nada disso. Seja macio na curva, seja a curva quando ela aparece. E isso a moto ensina, a ser flexível.”
Diz tudo, não acham?
É assim que penso quando estou montado nas minhas motos!
Eu me sinto parte da moto e ela parte de mim.
Boa pilotagem!
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Boa Dante, gostei do texto, só me deu mais saudades de nossas viagens, grande abraço, Edgard.