Persistência inteligente, a arte de saber insistir

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Confesso: não resisti. Depois de prometer para mim mesmo que não iria me inspirar em mais nenhuma frase de Confúcio tão cedo, afinal, vocês devem estar pensando que virei especialista em filosofia chinesa aos 86 anos, me deparei com uma citação que simplesmente não consegui ignorar.


É como aquela tentação de comer mais uma porção da sobremesa depois de já ter exagerado no almoço. Você sabe que não deveria, mas… lá vamos nós!


A frase em questão? “O triunfador não é apenas persistente, é persistente na direção certa.
Pronto, falei. E antes que alguém me acuse de estar ficando repetitivo com o velho sábio chinês, deixem-me explicar o porquê dessa escolha.


Depois de mais de seis décadas tocando negócios e observando a vida, posso dizer que essa frase aparentemente simples esconde uma grande verdade sobre o sucesso. E olha que eu já vi de quase tudo nessa vida!


A primeira parte da frase todo mundo conhece: “seja persistente”. Escutamos isso desde criança, dos pais, professores, até daquele vizinho que se acha expert em tudo. Mas é a segunda parte que faz toda a diferença: “na direção certa”.


Porque persistir no caminho errado não é virtude, é teimosia pura. E teimoso, diga-se de passagem, eu já fui o suficiente na vida para saber a diferença.


Lembro-me de uma vez que comprei uma bicicleta barata, atraído apenas pelo preço. Era instável, desconfortável, e depois de algumas pedaladas percebi que havia feito uma péssima escolha. O fabricante havia persistido, sim, persistido em fazer um produto ruim, focando apenas no custo mais baixo.


Isso me fez pensar sobre a “direção certa” nos negócios. Quando você produz bicicletas, por exemplo, precisa de um projeto bem elaborado que equilibre qualidade e custo. Uma bicicleta muito robusta pode ficar cara demais para vender; uma muito frágil vai quebrar na primeira subida. A direção certa está no ponto ideal: bicicletas masculinas pensadas para o peso médio dos homens, femininas adequadas às mulheres.


Parece óbvio, mas você ficaria surpreso com quantas empresas persistem na direção errada e depois se perguntam por que faliram.


Há pouco tempo, nossa empresa enfrentou um dilema interessante. Precisávamos de uma aplicação especial em papel, aqueles papéis para embalagens de congelados, que precisam resistir à umidade. Inicialmente, terceirizamos o processo. Persistimos nessa direção por um tempo, mas a qualidade não estava satisfatória.


Foi quando tomamos uma decisão que exemplifica perfeitamente a frase de Confúcio: mantivemos a persistência no objetivo, mas mudamos completamente a rota. Investimos em uma nova linha de produção interna.


Isso não foi desistência, foi persistência inteligente. O objetivo permaneceu o mesmo, mas a estratégia mudou. E funcionou.


A diferença entre persistência e teimosia
Um triunfador, na minha definição, é alguém que alcança sucesso executando seus projetos com planejamento e organização. Mas para isso, precisa ter um objetivo claro e seguir um caminho que realmente leve até ele. Se o caminho estiver errado, é preciso ter a coragem de parar e recomeçar.


Essa é uma das lições mais difíceis da vida: saber quando persistir e quando mudar de direção. Exige disciplina, transparência com colaboradores, um bom grupo de apoio e, principalmente, humildade para reconhecer quando estamos errando.


Porque, veja bem, ninguém sabe tudo. Tentar fazer tudo sozinho é receita certa para o fracasso. Buscar conhecimento, trocar ideias com quem tem experiência, aceitar que podemos estar na direção errada, isso não é fraqueza, é inteligência.


As estatísticas não mentem: a maioria das empresas no Brasil não passa dos primeiros cinco anos. Muitas vezes, não é por falta de persistência, mas por persistir na direção errada. Insistem em um produto que o mercado não quer, em um preço que não funciona, em uma estratégia que não dá resultado.


Nossa empresa familiar já passou dos 70 anos, e posso garantir: não foi sendo teimoso que chegamos até aqui. Foi sendo persistente no que funcionava e flexível para mudar o que não funcionava.


A persistência na vida pessoal
Essa filosofia vale também para objetivos pessoais. Quer emagrecer? Ter um relacionamento saudável? Aprender algo novo? É preciso ser determinado, sim, mas também honesto sobre se o método está funcionando.


Se você está há meses fazendo a mesma dieta e não está perdendo peso, talvez seja hora de mudar a estratégia, não de desistir do objetivo. Se está tentando conquistar alguém da mesma forma há tempos sem sucesso, talvez precise repensar a abordagem.


A persistência na direção certa exige essa capacidade de se reinventar mantendo o foco no objetivo final.


Ao longo desses anos todos, aprendi que o sucesso, seja nos negócios ou na vida, vem de uma combinação: ter objetivos claros, ser disciplinado na execução, transparente na comunicação, mas flexível nas estratégias.
É uma dança delicada entre determinação e adaptabilidade. Como dizia meu pai, que me ensinou muito sobre negócios: “Filho, seja duro nas metas e mole nos métodos.”

A frase de Confúcio continua atual porque captura essa verdade fundamental: não basta ser persistente se você está subindo a escada encostada na parede errada. Às vezes, o maior ato de persistência é ter a coragem de mudar de direção.


E você, está persistindo na direção certa?

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