Beleza é algo que quem procura acha

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Nos tempos em que cursava a universidade nos Estados Unidos, uma coisa curiosa me chamava a atenção: a beleza dos colegas venezuelanos da minha turma. Eu ficava pasmo, perguntando qual seria a origem de tanta harmonia estética em uma única pessoa e eles riam e respondiam que deviam isso aos colonizadores espanhóis.

Beleza… eis um tema difícil de falar, escrever e até de fazer analogias já que as pessoas nascem com inúmeros outros predicados, mas vou tentar.

Como já se sabe, a busca incessante pela beleza física não vem de hoje, mas atualmente a idolatria pela perfeição está passando um pouco dos limites. Homens e mulheres valorizam cada vez mais um ideal de beleza estético-corporal e acabam se esquecendo de que a beleza depende de muitos outros fatores não tão perceptíveis em apenas um flash do olhar.

Então eu pergunto: será que a verdadeira beleza está nos traços e corpos perfeitos?

Será que as pessoas não andam se preocupando demais com a beleza externa e estão se esquecendo da beleza interna?

Será que basta ser bonito para ser bem-sucedido?

Sinceramente, eu não consigo ver coisa feia em ninguém, porque simplesmente aprendi desde menino novo que não existe pessoa feia.

Claro que não sou ingênuo a ponto de não reconhecer que o visual de uma pessoa chama a atenção e até conta pontos, mas o que a torna de fato interessante são as suas atitudes diante dos acontecimentos diários, o conhecimento que compartilha, o saber, a delicadeza, o senso de humor, a paciência de ouvir e prestar atenção no outro de verdade.

Eu já nasci rodeado de muitas referências visuais bonitas: pais charmosos e esbeltos, casa decorada com requinte e bom gosto, escola grande e cheia de atrativos. Na fábrica da minha família eram confeccionados chapéus e roupas que primavam pelo bom gosto e design refinados. Mas a minha mãe sempre fez questão de nos lembrar que existiam muitas outras formas de beleza que não apenas as visuais e que nós jamais deveríamos tratar de forma diferenciada as pessoas que não se encaixassem nos padrões de beleza pré-definidos pela sociedade, porque todas as pessoas eram dotadas de muitas outras qualidades que mereciam ser pesquisadas e reconhecidas.

Ela procurava nos mostrar que o verdadeiro atrativo das pessoas estava na essência, nos valores, na forma como tratavam os familiares e amigos, na maneira como se comportavam na escola, em todas as pequenas coisas que formavam a personalidade de cada um.

Por volta de meus 10 anos de idade, um dia, na hora do almoço, minha mãe comunicou a mim e aos meus irmãos que naquela tarde receberíamos a visita de uma amiga dela que era “um pouco diferente”, não tinha uma aparência muito bonita, mas que era extremamente agradável, inteligente, divertida e que nós iríamos gostar de conviver com ela.

De fato, quando essa amiga chegou, logo percebi que se tratava de uma das pessoas mais feias que eu já havia visto na vida, mas depois de alguns outros encontros, vi que estava diante de uma pessoa carinhosa, que sabia ouvir, espirituosa e a cada dia que a encontrava (e isso aconteceu muitas vezes, na praia, na chácara, nas festas de aniversário), só constatava ainda mais que ela era uma pessoa bondosa, gentil, enfim, adorável.

Na verdade, uma pessoa bem diferente de tantas outras que conhecia, que eram bonitas por fora e ruins na essência, que tinham prazer de espezinhar os outros só porque tinham uma carinha bonita.

Acho que foi desde essa época que entendi que para enxergar a beleza das pessoas e das coisas precisamos desenvolver a sensibilidade.

Sensibilidade para perceber que beleza sem carisma é oca, não faz o menor sentido, entedia com o passar do tempo. Sensibilidade para analisar que a beleza reside nas atitudes e jogo de cintura que a pessoa tem diante dos percalços da vida, no seu grau de conhecimento das coisas, na sua forma de tratar os outros.

Procurar onde reside a verdadeira beleza das pessoas, das coisas e dos ambientes é um exercício diário que aprendi com a minha mãe e que se tornou um hábito que me acompanha em todos os momentos da minha vida.

Ainda bem! Porque beleza é algo que quanto mais procuramos, mais achamos!

1 comentário


  1. Muito bom. É uma pena que hoje às pessoas se preocupam mais com o exterior.

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