Começar a vida não é fácil

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Eu sempre vivi com muito pouco dinheiro, apesar de ter o privilégio de poder me exceder nos gastos se assim desejasse.

Não consigo gastar dinheiro que não seja necessário e acho até que já nasci com este tipo de pensamento, mas aprimorei esse hábito quando fui estudar nos Estados Unidos e precisava viver com o dinheiro que meu pai me enviava. Se gastasse a mais, ficaria sem.

Ele me mandava um cheque uma vez por ano, eu precisava trocá-lo com um amigo e parceiro de trabalho dele e só então conseguia depositar o referido valor na minha conta. Nos meses seguintes, precisava administrar bem esse dinheiro para cobrir todas as minhas despesas e ainda sobrar uns “pixulés” para levar as gatas ao cinema, almoçar fora aos domingos ou assistir uma peça no teatro.

Em 1958/59, para fazer um programa acompanhado de alguém se gastava cerca de 10 dólares e nesse mesmo período, eu comprei o carro zero quilômetro que usava lá na terra do Tio Sam por 1.800 dólares.

Nos dois primeiros anos de Estados Unidos, eu morava na escola, portanto o fee era destinado para estudo e moradia. A grana que quisesse gastar com o lazer, teria que ser conquistada, então tratei de começar a dar os meus pulos.

A estreia foi como garçom, trabalhava 2 a 3 horas por dia, o que me rendia um dólar por hora. Eu servia e tirava os pratos e depois os lavava.

Com três dias de trabalho eu garantia o final de semana. A valorização do dólar era diferente de hoje, 62 anos depois, que um carro similar ao que eu tinha, custa 15 vezes mais.

Depois eu fiquei sabendo na escola que estavam selecionando estudantes para trabalhar no cais do porto da cidade natal de Frank Sinatra, Hoboken, em New Jersey. Demorei dois dias para conseguir convencer a pessoa que estava recrutando para me escolher, pois a remuneração era bem melhor do que a de garçom: 3 dólares, por hora.

Mas eu não aguentei carregar os pesados sacos de 50kg nas costas mais do que um dia, o que me garantiu a verba suficiente para poder curtir o próximo final de semana. Sempre gostei de lutar para fazer o meu próprio dinheiro, por isso precisava tentar, mesmo sabendo que não seria fácil.

A atividade em si não me interessava muito porque tinha predisposição para tentar, para ir lá me candidatar e me esforçar para ter um bom desempenho na oportunidade que se apresentasse à minha frente.

Quando chegou o tempo de fazer estágio para a faculdade, eu aprendi sobre equipamentos e técnicas de fabricação de chapéus nas melhores fabricantes americanas, para trazer as novidades para a fábrica de chapéu da minha família. Da confecção ao acabamento. Aprendi tudo nos mínimos detalhes.

Então, foi assim que me acostumei a viver com o estritamente necessário e reivindicar os meus direitos sempre que fosse preciso conquistar os objetivos pretendidos.  E foi por causa disso que, aos 30 e poucos anos, sem fazer muito esforço, passei a fazer investimentos em vez de gastar. Por exemplo: comprava imóveis na planta. Aprendi a conquistar a minha grana, realizar investimentos e saber puxar o freio de mão na hora certa. Sempre gostei de testar novos investimentos, ir aos poucos, ver o quanto retornava, repor na carteira o lucro conquistado.

É preciso saber respeitar os nossos limites na hora de investir o nosso dinheiro, não se deixar levar pelo entusiasmo, por que o tombo pode ser grande. Tem que ter coragem, mas manter os dois pés no chão. Ter coragem, mas trocar ideias com quem souber mais do que você, principalmente as pessoas mais vividas. Excesso de coragem é bom, mas é perigoso, pois pode se transformar em irresponsabilidade.

E precisa lembrar que tudo o que você fizer para ganhar dinheiro é um risco, por isso precisa ficar atento e não colocar todos os ovos em um único cesto.

Acreditar que vai triplicar o dinheiro em 30 dias é algo que até pode existir, como por exemplo, prometem as criptomoedas, mas eu ainda não conheço ninguém que conseguiu tamanha façanha, ao contrário, conheço algumas que perderam dinheiro.

Há uns cinco anos, quando eu comecei a ler sobre criptomoeda, ela valia por volta de 5 dólares e hoje vale 40.000 dólares. Como explicar essa valorização tão meteórica? Deve ter muita gente perdendo dinheiro com isso!

Por uma dessas e outras que nunca fui aficionado por dinheiro. Quando era criança e me perguntavam o que queria ser quando crescesse eu dizia “motorista de táxi!”.

E até hoje, mantenho essa mesma postura de gostar de conquistar as minhas coisas, sem supervalorizar o dinheiro só para dizer que tenho, mas sim para investir e multiplicar o investimento, pois dessa forma posso ajudar outras pessoas a conquistarem novos patamares de vida também.

No dia-a-dia, volta e meia a Cidinha me pergunta: “meu bem, você precisa de dinheiro?”

– Dá cincão e está tudo certo. (E esses 5000 reais duram uma eternidade no meu bolso.)

Ainda bem que a filosofia do nosso tempo atual tem se voltado para a ideia de que menos é mais. O consumismo só para ostentar, sem objetivo, é um comportamento ultrapassado e as pessoas que ainda insistem em defendê-lo, em breve vão acabar mudando de ideia.  

Nós não precisamos nos apaixonar pelo dinheiro que temos, mas sim pela vida que levamos.

O dinheiro só serve para nos servir.

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