Não tenha medo da vida

Tempo de leitura: 5 minutos

O título da prosa de hoje foi inspirado em um dito muito interessante de Charles Chaplin, considerado o maior ícone da história do cinema: “A vida é maravilhosa se não se tem medo dela.”

Charles Spencer Chaplin nasceu em Londres, no ano de 1889, e não foi apenas ator e humorista, mas também um brilhante diretor, escritor, dançarino, músico, compositor, entre outras ocupações, atuando com surpreendente talento em todas.

Apesar de tanto sucesso e brilhantismo na sua arte, (e viver para ele foi literalmente uma arte!), ele teve que superar as inúmeras dificuldades com coragem, brilho nos olhos e destemor em fazer escolhas e seguir em frente.

As pessoas tendem a pensar que todo mundo que tem uma vida de vitórias e marcos de sucesso desfruta de uma vida tranquila, sem problemas… Chaplin é um dos exemplos de que isso não passa de lenda.

Para alcançar os objetivos pretendidos precisamos vencer o medo que nos paralisa e, acima de tudo, nutrir amor incondicional pelo próprio viver. Não ter medo da vida!

Medo só é bom de estar por perto quando for para atuar como um regulador de excessos, para mais ou para menos.

Isso pode ser facilmente identificável na nossa própria vida, na fase da infância, quando sentimos medo de ficar de castigo, de falar coisas que nossos pais não entendam e não concordem.

Eu, por exemplo, sempre fui meio destemido, mas tive um ponto a meu favor para ser assim, pois desde pequeno sempre fui “meio doentinho”, com 7 anos já tive que fazer uma cirurgia para retirada do apêndice, a primeira das muitas cirurgias que fiz pela vida afora.

A superproteção por conta da fragilidade da minha saúde fez com que eu ficasse muito amigo dos meus pais, ganhasse a liberdade da palavra ainda bem menino e fez também com que eu virasse motivo de chacota em algumas brincadeiras com amigos e irmãos. “Quero ver se o filhinho da mamãe vai dar conta de me ganhar na corrida…”

E eu tinha que controlar o medo e ir lá competir, muitas vezes em completa desvantagem de tamanho e com medo de apanhar. E isso foi muito saudável para eu dar um chega pra lá no medo.

Quando comecei a velejar no barco do meu pai, eu tinha apenas 7 anos, mas logo percebi que seria mais interessante se pudesse velejar no meu próprio barco. Então, não me fiz de rogado e comecei uma campanha para ganhar um barco olímpico, de apenas uma vela, em que pudesse treinar sozinho, com meu pai me acompanhando de perto, só que cada um na sua embarcação.  (Meu barco se chamava Pelicano, velejei com ele até os 15/16 anos e tenho muita saudade dele!)

Com atitudes como essa, fui ganhando mais autoconfiança nas minhas ações e, aos 10 anos, negociei sozinho a troca da minha moto cinquentinha, que havia ganhado aos 7 anos, por uma mais potente e me comprometi a pagar a diferença sem nem saber se teria o dinheiro.

Chegando em casa, propus que a minha mãe me emprestasse o dinheiro e combinei que pagaria mensalmente com parte da minha mesada.  Ela foi parceira, disse que retiraria a respectiva quantia da minha poupança, mas… sim, eu teria que devolver aos poucos, honrando a palavra dada. (Essa foi a minha primeira dívida, na qual comprometi a metade da minha mesada por um bom tempo, mas paguei integralmente.)

Pouco tempo depois, meu irmão Lamberto ganhou uma moto maior que a minha e isso já despertou a minha vontade de ter uma moto mais potente também. Lá fui eu pesquisar, descobri uma scooter, MV Agusta de 125 cilindradas e comecei uma nova negociação, que também deu certo. Dei minha moto como parte do pagamento e meu pai complementou o restante. (Como havia dado a moto para o meu irmão, achou justo me ajudar, e eu achei mais justo ainda aceitar a oferta!)

Por falar em barco e em medo, por volta dos 12 anos, eu estava no barco do meu pai com uns amigos, veio um vento muito forte, eu fiquei com medo que alguém se machucasse e comecei a chorar. Uma menina que estava no barco, assim que chegou em terra, contou ao meu pai que eu estava chorando “igual a um bezerro desmamado” … fiquei tão magoado que dei um empurrão nela e disse “eu posso chorar, sim! Eu posso fazer o que sentir vontade de fazer, ainda sou uma criança…”

Isso denotava o quê? Vontade de vencer, de competir, de vencer o medo, o que me ajudou muito quando, aos 17 anos quis fazer minha formação universitária nos Estados Unidos e não titubeei em deixar a vida tranquila que levava por uma que não sabia o que poderia acontecer. Zero receio de sair da zona de conforto.

Quando paro para pensar nas tantas situações difíceis que já passei, em que tive que engolir o medo e seguir em frente… tive que decidir, porque não decidir seria pior do que decidir errado.

Em 1972, quando eu assumi a presidência da Papirus, tive que me confrontar com várias dificuldades, todas elas exigindo uma boa dose de coragem para buscar as soluções, que muitas vezes só cabiam a mim e tive que vencer o medo e a insegurança, afinal, tal e qual na vida de Charles Chaplin, o nosso show também precisava continuar.

E, assim, de degrau em degrau, continuo nutrindo uma espécie de coragem interior, que agradeço por ela todos os dias, pois afinal meus medos nunca foram maiores do que as minhas iniciativas.

2 Comentários


  1. Graaannnde Dante! Amigo velho de liberdade, de vento no rosto, lugares e passagens maravilhosas, engraçadas, prazerosas…
    Bons tempos, amigo! Saúde e saudades!
    Gosto de suas crônicas, seu modo de ver a vida. Parabéns antecipados pelo NOSSO aniversário!
    Abraço forte, meu caro!

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    1. Ohhhhh, grande amigo!
      Também estou saudoso das “nossas motocadas”, portanto gostaria de encontrá-lo nesse próximo mês.
      Grande abraço.

      Responder

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