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Há dias em que acordo me sentindo uma enciclopédia ambulante. Sei o nome daquela flor exótica que vi na primeira viagem ao Pantanal, lembro a data exata da derrubada das torres gêmeas em Nova York e até consigo recitar de cor aquele poema complicado que li na adolescência. Nesses momentos, quase posso ouvir meus neurônios dançando uma valsa triunfal.
Mas então, como num passe de mágica, a vida me apresenta um desafio inesperado. Como por exemplo, ter que fazer reuniões online em aplicativos que muitas vezes não querem mostrar a minha imagem no ar de jeito algum e eu preciso recorrer aos meus anjos da guarda de TI, lá da Papirus.
Nesses momentos, toda aquela confiança intelectual se evapora como a névoa da manhã sob o sol inclemente do meio-dia, e eu que achava que sabia tudo, na verdade me sinto como se não soubesse nada.
Em todas as situações em que fico perplexo e percebo que ainda tenho um monte de coisas a aprender, lembro de uma frase atribuída a John F. Kennedy: “Quanto mais aumenta o nosso conhecimento, mais evidente fica nossa ignorância.”
Confesso que a primeira vez que me deparei com essa frase, achei que o jovem presidente estava apenas tentando se consolar por algum erro diplomático. Afinal, não é todo dia que alguém admite publicamente suas limitações, especialmente quando se está no comando da nação mais poderosa do mundo.
De minha parte, quanto mais eu amadurecia, melhor compreendia a profundidade dessa frase de Kennedy, que com sua formação em Harvard e sua mente curiosa parecia entender algo fundamental sobre a natureza do saber.
É como se o conhecimento fosse uma ilha no meio de um oceano de mistérios. Quanto mais expandimos essa ilha, maior se torna sua costa, e mais conscientes ficamos da vastidão do que ainda não sabemos. Cada livro que leio, cada documentário que assisto, cada conversa profunda que tenho com um amigo, ao invés de saciar minha sede de conhecimento, apenas a intensifica.
Nos últimos 5 anos, por exemplo, por força das cirurgias que precisei realizar na coluna, nos quadris, nos olhos e dos inúmeros outros procedimentos para garantia do meu bem-estar físico e mental tenho aprendido tantas coisas novas, que já tracei até o meu objetivo para 2025: descobrir cada vez mais novas possibilidades de aprendizado na área da saúde, nutrição e treinamentos físicos mais adequados para chegar aos 120 com muita energia e disposição para continuar a fazer algo que me faz muito bem: sair por aí com a minha moto.
Kennedy, em sua breve, mas impactante passagem pela Casa Branca, parecia compreender que o verdadeiro poder não está em saber tudo, mas em manter-se eternamente curioso, eternamente estudante. (Eu penso da mesma forma!)
Talvez seja esse o segredo da sabedoria: reconhecer que, por mais que estudemos, por mais que nos esforcemos, sempre seremos aprendizes nessa grande escola que é a vida. E não há nada de errado nisso. Pelo contrário, há uma beleza quase poética em saber que sempre teremos algo novo para descobrir, sempre haverá um horizonte para o qual avançar.
Então, da próxima vez que você se sentir um gênio incompreendido, lembre-se: esse sentimento de onisciência provavelmente significa que você está prestes a aprender algo novo e fascinante. Abrace essa ignorância recém-descoberta. Afinal, como diria Kennedy (ou pelo menos como eu imagino que ele diria se fosse um cronista contemporâneo): “A ignorância reconhecida é o primeiro passo na escada do conhecimento. E que escada infinita e maravilhosa ela é!”