O que se planta, se colhe

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Dizem por aí que a vida é como um bumerangue: o que você joga, volta. Mas, talvez, a vida seja mais como um pomar ou um jardim meticulosamente planejado. Se plantarmos tomates San Marzano, colheremos tomates San Marzano – perfeitos para um delicioso molho de tomate caseiro. Ao plantarmos rosas amarelas, colheremos rosas amarelas – mas precisaremos aceitar os espinhos que vêm junto, lembrando que a beleza muitas vezes exige resiliência.

Essa relação com o que investimos e colhemos na vida é tão lógica quanto inevitável, embora nem sempre fácil de reconhecer em meio ao corre-corre do dia a dia. “As pessoas tiram da vida exatamente o que investiram nela”. Essa frase não é minha, mas ela embasa perfeitamente a reflexão que eu vou compartilhar hoje, sobre nossas ações e escolhas.  

Pense um pouco: quantas vezes você reclamou que a vida é injusta, que nada dá certo, que o universo parece conspirar contra você? Agora, seja honesto consigo mesmo e faça uma revisão interna detalhada. Olhe para trás e veja o que, de fato, tem plantado. Talvez tenha depositado expectativas excessivas em relacionamentos sem fortalecer raízes como honestidade ou confiança, esquecendo que a base de qualquer relação duradoura é construída com tempo e esforço mútuo. Ou tem procrastinado no trabalho, deixando as oportunidades passarem, como ervas daninhas tomando conta de um solo que poderia ter florescido com projetos inovadores e crescimento profissional.

A verdade é que a vida funciona como uma terra fértil: responde ao cuidado, à dedicação e à paciência. Não controlamos tudo – as chuvas e as tempestades aparecem, muitas vezes, sem aviso, trazendo desafios inesperados. Mas podemos escolher as sementes que plantamos e o esforço dedicado ao cultivo, nutrindo-as com conhecimento e persistência. É aí que reside a chave do sucesso: focar no que está sob o nosso alcance, transformando obstáculos em oportunidades de aprendizado e crescimento.

Lembro-me de quando decidi comprar uma fazenda para criar gado Guzerá. Para muitos, parecia uma loucura, um salto no escuro sem nenhuma garantia de retorno. Mas, para mim, foi uma oportunidade de redescobrir caminhos e me reinventar profissionalmente. Investi tempo, dinheiro e coragem para fazer dar certo, pesquisando as melhores práticas de manejo e investindo em tecnologia para otimizar a produção. Passei muitos finais de semana dedicados a estudar e a tomar decisões estratégicas em conjunto com minha fiel companheira, Cidinha. Cada escolha, cada vitória e cada erro se tornaram tijolos na construção de uma realização duradoura, moldando um legado familiar. Após 12 anos de muito trabalho, olhei para os frutos desse plantio e me vi inserido em um mercado renovado, onde o impacto do nosso trabalho ficou marcado a ponto de ser dividido entre “antes e depois” da minha chegada. Tudo isso foi possível porque plantei com propósito, adubando os sonhos com muito esforço e perseverança, e utilizando processos adequados para garantir a qualidade do gado.

Mas, na vida, também nem tudo floresce conforme o planejado. Houve um momento em que me associei a uma oficina para motos Harley-Davidson, alimentado pela minha paixão por motocicletas e pelas possibilidades que o negócio apresentava. Entretanto, meu envolvimento direto com a gestão da Papirus exigia tanto de mim que faltou tempo para regar o novo empreendimento como ele merecia. A falta de alinhamento e a incompatibilidade de expectativas acabaram levando à decisão de encerrar a sociedade. Foi uma lição clara de que, por maior que seja a paixão, os frutos dependem de atenção e esforço. Sem isso, o campo fica árido, e a colheita se torna incerta, reforçando a importância de um planejamento estratégico sólido e uma gestão eficiente.

Agora, pergunto: o que você anda plantando na sua vida? Reclamações ou soluções? O que você nutre, cresce. Se cultiva problemas sem lidar com eles, eles se espalham como ervas daninhas, rapidamente sufocando as flores, impedindo o crescimento pessoal e profissional. Por outro lado, se dedica o seu tempo a ações construtivas e mudanças, a colheita será recompensadora, gerando satisfação e bem-estar. Medos e incertezas muitas vezes paralisam, mas a coragem – mesmo quando cheia de dúvidas – permite que você avance e encontre novos caminhos, descobrindo talentos e habilidades que antes estavam adormecidos.

A vida, implacável e justa, devolve exatamente o que investimos nela. Se plantar descaso, colherá arrependimento e solidão, vivendo uma existência vazia e sem propósito. Mas se semear dedicação, cuidado e autorreflexão, colherá realização e plenitude, construindo uma história de sucesso e significado. Nunca é tarde para começar. Reavalie o que tem regado, escolha sementes melhores, invista atenção no que realmente importa e prepare-se: as colheitas podem surpreender, superando todas as expectativas.

Por fim, lembre-se: um campo bem cuidado nunca para de florescer. O jardim da vida é generoso com quem sabe plantar, oferecendo oportunidades infinitas de crescimento e aprendizado. Que tal começar hoje, cultivando a sua melhor versão?

Em tempo: a frase citada é de Joy Adamson, escritora austríaca notável por sua obra “Nascido Livre” (“Born Free”), um relato emocionante sobre o resgate e a subsequente devolução à vida selvagem da leoa Elsa. Este livro não apenas cativou leitores globalmente, mas também serviu de inspiração para o aclamado filme homônimo. Lembro-me que assisti a este filme em 1966, durante um encontro internacional de chapeleiros realizado na Filadélfia. O filme, com sua cinematografia exuberante e narrativa tocante, causou um impacto profundo em mim, solidificando a mensagem de Adamson sobre a importância da liberdade e da conservação da vida selvagem.

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