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Vocês conhecem aquela sensação de quando algo toca sua alma tão profundamente que você sabe que será para sempre? Foi exatamente isso que aconteceu comigo aos sete anos de idade. Lembro-me como se fosse ontem: eu observava as motocicletas passando pela rua, e meu coração disparava com o som dos motores. Não era apenas curiosidade, era uma chama que se acendia dentro de mim.
Naquela época, eu ficava horas imaginando como seria sentir o vento no rosto, a sensação de liberdade absoluta que só uma moto poderia proporcionar, ainda mais voltando da fábrica com o meu pai, depois de ter ficado mais de duas horas observando a moto do meu pai com o mecânico Bruno Meneguelo, uma BSA 500 cilindradas, ano 1946. E aqui estou eu, oito décadas depois, com essa mesma chama ardendo no peito, talvez até mais intensa do que antes.
Sabe qual é a pergunta que mais escuto por aí? “Seu Dante, até quando o senhor pretende andar de moto?” E eu sempre respondo com um sorriso no rosto: “Até quando eu conseguir, de boa!”
Essa resposta resume tudo sobre quem eu sou. Não é teimosia, não é inconsequência, é pura e simples paixão pela vida. Enquanto meu corpo me permitir, enquanto minha mente estiver lúcida e meus reflexos funcionando, estarei em cima de duas rodas. É assim que me sinto verdadeiramente vivo.
O desafio que quase me derrubou
Quando passei pelas cirurgias nos quadris, confesso que tive meus momentos de dúvida. O médico foi direto: “Você vai precisar reaprender a se equilibrar, Dante.” Essas palavras ecoaram na minha cabeça por semanas.
No início, cada passo era uma luta. O desconforto era constante, e eu me pegava olhando para as minhas motos na garagem com uma mistura de saudade e apreensão. “Será que vou conseguir voltar a pilotar?” – essa pergunta me assombrava.
Mas sabe o que me salvou? A voz da minha fisioterapeuta, uma mulher determinada que não aceitava um “não” como resposta. “Você vai ver, é só uma questão de tempo”, ela repetia, enquanto me ajudava a dar cada passo doloroso. “Use a mente, não só o corpo”, ela insistia, e eu, teimoso como sempre sou, decidi que nada, absolutamente nada, me impediria de voltar a sentir aquela liberdade.
Quando chegou a hora de escolher uma nova companheira de estrada, fiz algo que até eu mesmo me surpreendi: optei por uma Zontes 350 E, uma marca chinesa que poucos conheciam. Sim, eu que sempre fui fiel às grandes marcas como BMW e Harley Davidson!
Vocês deveriam ter visto as caras das pessoas quando contei. “Dante, uma chinesa?” Mas sabe de uma coisa? Às vezes, é preciso abrir a mente para novas experiências. Essa máquina tem tudo o que preciso: qualidade, consegue chegar aos 120km/h nas estradas, tem um excelente custo-benefício e, principalmente, me devolve aquilo que mais importa, a sensação de liberdade.
A escolha da Zontes não foi apenas prática; foi uma lição de vida. Aprendi que o prestígio da marca não importa tanto quanto a alegria que ela te proporciona. E que alegria essa moto me trouxe de volta!
O legado que compartilho
Uma das coisas que mais me emociona hoje é poder dividir essa paixão com meus filhos e netos. Imaginem a minha felicidade ao ver os olhinhos deles brilhando quando falo sobre as aventuras na estrada, ou quando eles mesmos pegam suas motos para nos acompanhar!
Cada passeio em família se torna uma celebração. É uma forma de mostrar para eles que a vida é feita de altos e baixos, mas que sempre é possível encontrar um caminho que nos leve aonde realmente queremos estar. Quando vejo meus netos pilotando, sinto que estou transmitindo muito mais que uma simples paixão – estou passando adiante uma filosofia de vida.
Eles sempre me apoiaram em todas as minhas escolhas, e isso me enche de orgulho. Saber que posso contar com esses companheiros de estrada torna cada quilômetro mais especial.
Mais que um meio de transporte
Vocês precisam entender: para mim, a motocicleta nunca foi apenas um meio de transporte. Ela é um símbolo de resistência, de amor pela vida, de uma paixão que simplesmente se recusa a envelhecer junto com meu corpo.
Cada vez que ligo o motor, sinto meu coração acelerar como se eu tivesse novamente sete anos. Cada curva na estrada é uma oportunidade de celebrar mais um dia que posso fazer aquilo que amo. Cada parada para contemplar a paisagem é um momento de gratidão por ainda estar aqui, ainda estar vivo, ainda estar pilotando.
E assim, sob o céu aberto, sigo em duas rodas. Não sei até quando conseguirei manter esse ritmo, mas enquanto for possível, estarei lá – sempre em busca de novas aventuras, sempre pronto para sentir o vento no rosto e a liberdade no coração.
A cada saída, reafirmo para mim mesmo que idade é apenas um número. O que realmente importa é a chama que queima dentro da gente, a vontade de viver intensamente cada momento que nos é dado.
Então, quando me perguntarem novamente “até quando pretende andar de moto?”, minha resposta continuará sendo a mesma: “Até quando eu conseguir, de boa!” – porque essa é a única forma que conheço de viver: com paixão, determinação e sempre de peito aberto para as aventuras que a vida tem a oferecer.
Outra coisa que me apaixona é ver o brilho nos olhos da minha amada Cidinha, demonstrando toda a sua compreensão em me ver feliz com a minha moto.