A luta que vale a pena

Tempo de leitura: 4 minutos

Era uma tarde como outra qualquer, quando o sol já começava a se despedir, pintando o céu com tons alaranjados. Durante minha caminhada habitual, cruzei com pessoas checando seus celulares, estudantes com mochilas pesadas, vendedores ambulantes anunciando seus produtos. Com meu caderninho de anotações no bolso, sempre pronto para capturar qualquer ideia que surgisse, fui surpreendido por uma cena que transformaria aquele momento em mais uma reflexão sobre a vida.

Um garoto, não mais que onze anos, pedalava sua bicicleta com toda a força que suas pernas permitiam. Ele dobrou a esquina e começou a subir uma ladeira íngreme, o rosto vermelho de esforço, a testa franzida em concentração. O guidom oscilava levemente enquanto ele mantinha o equilíbrio, cada pedalada era uma pequena vitória contra a gravidade. Algumas pessoas paravam para olhar, outras passavam direto, mas o menino não se importava. Em seus olhos, havia aquela determinação pura que só as crianças conseguem demonstrar.

A cena me transportou instantaneamente para meus doze anos, pedalando pela Avenida Brigadeiro Luís Antônio, na volta do Clube Pinheiros até a casa dos meus pais na Rua dos Franceses. Lembro-me do vento contra o rosto, do cheiro característico da cidade no final da tarde, das conversas ofegantes com meus irmãos e amigos enquanto enfrentávamos aquela subida desafiadora. Naquela época, São Paulo tinha um ritmo diferente – os carros eram outros, as árvores mais jovens, e nós, bem, éramos apenas adolescentes descobrindo o sabor da superação.

Ao chegar em casa, abro o caderninho e me veio à memória uma frase do grande Rui Barbosa que anoto rapidamente para não esquecer: “maior que a tristeza de não ter vencido é a vergonha de não ter lutado”. Aquele garoto anônimo, sem saber, estava me proporcionando uma masterclass sobre vida e perseverança.

Como uma bicicleta bem mantida, precisamos estar preparados para os desafios – nossa “manutenção” envolve cuidar do corpo, da mente e do espírito. O equilíbrio, tão fundamental ao pedalar, reflete a importância de encontrarmos harmonia em nossas escolhas.

Quantas vezes deixamos de tentar algo por medo de falhar? Estudos mostram que 70% das pessoas deixam de perseguir seus sonhos por medo do fracasso. Como Thomas Edison, que tentou mais de 1.000 vezes antes de inventar a lâmpada, ou J.K. Rowling, que teve seu manuscrito sobre Harry Porter rejeitado por 12 editoras, precisamos entender que o fracasso não é o oposto do sucesso – é parte do caminho.

A vida não é sobre vencer todas as batalhas. É sobre escolher quais batalhas valem a pena lutar e, mais importante, como lutar por elas. Às vezes, precisamos ajustar nossa velocidade, como um ciclista que encontra seu próprio ritmo. Em outros momentos, é necessário acionar os freios para reflexão e replanejamento.

Pesquisas em neurociência mostram que o cérebro se fortalece com cada desafio enfrentado, desenvolvendo novas conexões neurais. É como o músculo que se desenvolve com o exercício – cada tentativa nos torna mais fortes e mais capacitados. O menino da bicicleta, em sua simplicidade, demonstrava essa verdade universal.

Mesmo que ele não tenha conseguido chegar ao destino naquele dia, tenho certeza de que voltaria no dia seguinte. A satisfação estava estampada em seu rosto – não era apenas sobre chegar ao topo, era sobre dar o seu melhor, sobre enfrentar seus limites. Nós, adultos, frequentemente nos perdemos na busca pelos resultados, esquecendo que a verdadeira transformação acontece durante a jornada.

E você, que está lendo estas palavras agora, qual é a sua ladeira? Que desafio tem feito seu coração bater mais forte, mesmo que o medo tente silenciá-lo? Talvez seja hora de fazer aquela ligação importante, começar aquele projeto, dar o primeiro passo em direção ao sonho guardado.

A vida é como aquela ladeira que o menino estava desbravando: às vezes íngreme, às vezes assustadora, mas sempre uma oportunidade de crescimento. Cada pedalada representa uma escolha, cada gota de suor é um investimento em nosso próprio potencial. Lembre-se: não é a altura da montanha que importa, mas a coragem de começar a subida.

Pegue sua bicicleta metafórica, ajuste o capacete dos seus sonhos e comece a pedalar. O único fracasso real é aquele que vem do medo de tentar. A vista lá de cima pode ser incrível, mas a satisfação de ter feito a subida até o objetivo desejado, de ter lutado com todas as suas forças, essa sim é verdadeiramente impagável.

“Porque no final, não são os anos em sua vida que contam, mas a vida em seus anos, e como você escolheu pedalá-los.”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *