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Tem uma pergunta que me fazem com frequência: “Dante, qual é o segredo?”
Segredo para quê? Para continuar pilotando motocicletas aos 86? Para transformar uma máquina que produzia 150 toneladas de papel cartão em uma que produz 300 toneladas? Para criar filhos que se tornaram amigos de verdade? A resposta é simples, mas vai deixar muita gente de boca aberta: não existe segredo. Existe ação. Existe insistência. Existe a coragem de tentar mais uma vez quando todo mundo desiste.
Gandhi resumiu isso melhor do que eu jamais conseguiria: “Você nunca sabe que resultados virão da sua ação, mas se você não fizer nada, não existirão resultados.” E é exatamente sobre isso que quero falar hoje.
A tentação da desistência
Percebo que quando somos adolescentes, temos aquele ímpeto natural. Queremos algo, vamos atrás, insistimos com os pais, com os amigos, não desistimos até conseguir. Mas depois, com o tempo, as pessoas vão se acomodando naquela linhazinha reta, achando que a vida vai ser tranquila assim: escolhi fazer isso, agora minha vida vai ser essa linha do tempo retinha, aí depois eu envelheço, me aposento e curto a vida.
Não é assim. Muito pelo contrário. Não é nada assim.
A vida exige muito mais exercício, muito mais persistência aos 80 anos do que aos 20. E se você desistir na terceira tentativa, o problema vai continuar ali, te incomodando, empurrando aquele incômodo para o resto da vida.
Recentemente, alguém me perguntou: “Dante, você ainda anda de motocicleta? Na sua idade, você não deveria andar mais.”
Eu respondi: “Vou andar de motocicleta até a hora que eu achar que posso andar, porque é uma atividade que eu realmente gosto muito. Essa é uma decisão minha.”
Ela insistiu: “Mas você já falou com o seu médico sobre isso?”
Tinha um médico que ficou receoso que eu andasse de moto, mas como ele não andava de motocicleta, não era uma pessoa autorizada a avaliar. Então procurei outro médico, que não viu problema algum pois enxerga a vida de uma maneira mais prática e sabe andar de moto. Isso me ensinou algo fundamental: cuidado com as opiniões que você segue. Uma opinião fora de contexto, seguida à risca, pode atrapalhar o resultado daquilo que você quer. Principalmente quando vem de quem tem medo ou não tem prática.
Eu ando de motocicleta há quase 80 anos. Comecei aos 7 anos de idade. Quem vai querer discutir comigo sobre isso?
150 toneladas que viraram 300
Há 40 anos, quando nossa máquina de papel produzia 150 toneladas por dia, chamei os técnicos da fabricante e disse: “Quero chegar a 200 toneladas.” A resposta deles foi clara: “Sr. Dante, o senhor não vai conseguir chegar a 200 toneladas. O senhor vai ter que comprar uma máquina nova.”
Claro que eles queriam vender uma máquina nova. Mas eu não tinha dinheiro para isso, apenas para fazer modificações que eu já imaginava. Então, com outros engenheiros do setor de papel e celulose, começamos a fazer as modificações por nossa conta.
Fui aumentando, fui aumentando. Hoje, 40 anos depois, fazemos 300 toneladas por dia. Com a mesma máquina. Dando os upgrades necessários, sim, mas provando que o “impossível” era apenas a opinião de quem não estava disposto a experimentar.
Esse é um resultado que ainda estou apurando quatro décadas depois. Uma estrada longa entre o resultado que eu queria alcançar e o resultado que estou alcançando agora, ultrapassando em 50% o que os especialistas disseram ser impossível.
Cinco vezes no dicionário
Quando aprendi inglês nos Estados Unidos, aos 17 anos, me ensinaram algo que nunca esqueci: você precisa, no mínimo, procurar cinco vezes no dicionário para aprender, para lembrar o que significa a palavra que você aprendeu naquele dia.
Você faz no primeiro dia, faz no segundo, no terceiro dia você pensa: “Ah, não aguento mais fazer isso, troço chato. Se para aprender inglês eu tenho que fazer isso, eu não vou fazer. Isso é chato.” Então você não vai aprender inglês. Simples assim.
São quase 70 anos desde que comecei a estudar inglês. E não mudou nada. Hoje, mesmo com aplicativos e inteligência artificial que ajudam, se você não tiver a disciplina de repetir e errar, repetir e errar até acertar e guardar, você não vai aprender o idioma.
A questão é: o resultado só vem se você insistir naquilo que quer, seja o que for. Não pode fazer uma, duas, três vezes. Às vezes tem que fazer dez vezes alguma coisa até aquilo dar certo, até conseguir.
Mas se tem um exemplo que ilustra perfeitamente essa filosofia, é o exercício de ser pai. Tornei-me pai aos 24 anos. São 62 anos sendo pai, um aprendizado que continua até hoje.
Quando tive meu primeiro e segundo filho, ganhamos uma fazenda para administrar. Tentei, tentei ser um bom pai, mas não estava feliz. Ficava uma semana e meia por mês fora, longe dos meus filhos, justamente quando eu queria que eles entrassem num ritmo esportivo através de esportes náuticos. Então conversei com meus irmãos: “O que vocês acham? Vamos vender a fazenda?”
Vendemos. E consegui passar todos os fins de semana do ano inteiro com meus filhos. Não só isso, levei-os aos campeonatos fora do nosso estado. Foi assim que eles aprenderam a velejar. Foi assim que fui me exercitando a ser um pai mais presente na vida dos meus filhos.
Mas esse foi apenas um problema. Vieram muitos outros. Ser pai é um processo cujo resultado é a vida toda. Você não pode não fazer, porque senão você não vai ver o resultado. Você tem que ter paciência, resiliência, boa vontade, amor, amizade. É um estudo que não termina nunca.
Ninguém nasce com um carimbo dizendo “agora você está apto para ser pai“. Você tem que se dar conta daquilo, ter o amor necessário, a disciplina necessária. E apesar de todas as nossas diferenças pessoais, consegui fazer com que meus filhos sejam meus amigos até hoje, amizade verdadeira, além de serem meus filhos e eu o pai deles.
A vida me ensinou, como bem disse Gandhi, que você nunca sabe que resultados virão da sua ação, mas se você não fizer nada, não existirão resultados. Essa verdade está presente em tudo o que faço. Desde pilotar minha motocicleta, apesar das opiniões alheias, até insistir em melhorias em nossas máquinas, elevando sua produção de 150 para 300 toneladas diárias ao longo de 40 anos, mesmo quando os fabricantes diziam ser impossível.
Mas o maior aprendizado, aquele que exige persistência, disciplina e um amor inesgotável, é ser pai. Não há manual para ser um bom pai, é um processo contínuo, de vida inteira. Lembro-me de ter vendido uma fazenda para poder estar mais presente, acompanhar meus filhos em campeonatos, ser um amigo além de pai.
Ser pai é uma jornada que se constrói diariamente, com paciência e dedicação, onde os resultados, laços de amizade verdadeira e filhos seguros de si, se revelam e se fortalecem com o tempo. É a prova viva de que a ação constante, mesmo sem conhecer todos os desfechos, é a chave para colher frutos verdadeiramente significativos.
Porque no final, a única certeza que tenho é esta: se você não agir, se você desistir na terceira tentativa, se você ouvir quem tem medo em vez de quem tem prática, então não acontece nada. Você vai ficar empurrando aquele problema, aquele sonho, aquela possibilidade para o resto da vida.
E a vida é curta demais para viver de “e se”.