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Fiquei pensando sobre o tema do post anterior e vieram tantas coisas na cabeça que resolvi fazer a parte dois do mesmo tema, dessa vez contando algumas histórias que a dedicação ao estudo e a aquisição de novos conhecimentos trouxeram para a minha vida. Vai que possa servir de inspiração para a turma mais jovem que gosta de resolver tudo com apenas um clique…
Nos meus tempos de escola, nos diversos cursos que fiz, nunca tinha muita facilidade para conseguir as informações que precisava para fixar o conteúdo. Normalmente eu tinha uma aula expositiva sobre o assunto, o professor passava algum livro ou apostila para eu me aprimorar no tema em foco e quando ia estudar sozinho, o que acontecia? Eu ficava com um monte de dúvidas e tinha duas opções: ou esperava para perguntar ao professor na aula seguinte ou buscava a resposta em outra fonte.
Eu ia direto na segunda opção, porque era difícil ter acesso aos professores naquela época, especialmente os bons, porque estes estavam sempre ocupados em salas de aula e não tinham disponibilidade para tirar dúvidas dos alunos fora do tempo regulamentar. (Nos dias atuais, meu neto me explicou que existem professores Tira Dúvidas, especializados em… esclarecer dúvidas dos alunos, vejam só, tamanha a superficialidade com que as matérias são passadas em sala de aula.)
Mas como eu já disse no post anterior, “facilidades em obter respostas com a ajuda da tecnologia, não quer dizer que a pessoa saiba o que vai fazer com as informações obtidas e pode até contribuir para que o grupo de cabeças não pensantes fique cada vez maior.” E o que venho percebendo é que as dúvidas crescem cada vez mais e na maioria dos casos o aluno diz a si mesmo “deixa pra lá!”.
No meu tempo esse “deixa pra lá” não acontecia, por que ficar sem resposta significava aprender menos, pensar pequeno, não ter futuro.
Eu me lembro que tinha cerca de 12 ou 13 matérias que precisava dar conta de aprender e descobrir todas as respostas e uma delas era EMC – Educação Moral e Cívica, uma disciplina que sumiu dos currículos, mas que era fácil de gostar, pois ensinava a gostar do Brasil, a ter noção de patriotismo. (Que eu acho que é o que está faltando no nosso país, pessoas que respeitem as outras pessoas e também o nosso país.)
Outra matéria interessante era o Canto Orfeônico. Um nome pomposo, que muita gente que está lendo esse post nunca deve ter ouvido falar, mas que surgiu muito antigamente, na época em que os seres humanos, para se defender dos animais ferozes quando vinham atacá-los, eles começavam a cantar em grupos e os animais ficavam mansos e iam embora. Não sei se isso é verdadeiro ou falso, mas sei que na escola, nós tínhamos aula de canto orfeônico para aprender a cantar os hinos que apresentávamos nas aberturas dos principais eventos escolares. (Esse projeto de canto orfeônico foi lançado nas escolas de São Paulo e depois foi seguido no Rio de Janeiro, tendo Heitor Villa-Lobos como grande divulgador e reunia multidões de alunos para celebrar e difundir os valores cívico-patrióticos, executando hinos e músicas de cunho nacionalista.)
Eu tinha facilidade para cantar? Não! Mas precisei me esforçar quando frequentei o jardim de infância no Dante Alighieri, pois tinha que cantar o hino da escola desde os quatro anos de idade.
Anos depois, quando fui estudar nos Estados Unidos, via a mesma cena se repetir na universidade, onde os alunos cantavam o hino americano com apego, para saudar a pátria americana. (Quando vamos aos estádios de futebol, o que fazem as gigantescas torcidas do Palmeiras, Corinthians e todos os outros times? Praticam canto orfeônico e nem sabem disso, sempre que entoam os hinos dos seus clubes e também o hino brasileiro, quando a seleção está em campo.)
Como aulas de canto sumiram das escolas também… Vamos para algo mais contemporâneo: ginástica!
Nas turmas do meu tempo de primário e ginasial tínhamos aulas de ginástica três vezes por semana na escola e hoje a meninada reclama para se exercitar uma vez por semana e olhe lá.
Eu acho essas coisas tão importantes e hoje em dia não tem mais nada disso! E quero aqui mais uma vez frisar que nunca fui um aluno brilhante, mas se o assunto me interessava, sempre queria aprender um pouquinho mais e sou muito grato e feliz por ter trilhado este caminho que indicava sempre uma porta aberta para algum aprendizado novo e eu não hesitava em entrar.
Sou muito grato também aos meus pais, que me incentivaram muito para a diversidade do meu conhecimento, incluindo a iniciação musical.
Um dia, meu pai me levou na casa de um primo dele, Erudio Tessarini, cujo filho chamado Titto estudava violino e percebeu que eu fiquei entusiasmado… quando chegamos em casa, ele logo veio me perguntar se eu gostaria de estudar violino também. Ao acenar que sim, perguntou quando eu gostaria de começar e a resposta foi: já!
Meu pai logo deu um jeito de arrumar um violino compatível com o meu tamanho e eu estudei por sete anos (depois vi que a dedicação teria que ser exclusiva para a música e eu queria fazer muitas outras coisas). Meus irmãos também, cada um a seu tempo, foi motivado a aprender o que tivesse vontade, o que mostrasse melhor aptidão, desde que houvesse empenho por parte deles.
O que eu quero dizer com tudo isso?
Que o ensino no Brasil precisa passar por uma grande reestruturação curricular, adequar seus conteúdos para formar profissionais mais interessados em aprender, mais capacitados para o mercado de trabalho e, principalmente, cidadãos mais comprometidos na construção de um país menos corrupto e que ofereça melhores condições de vida para sua gente.
Que os pais precisam acompanhar mais de perto a educação de seus filhos, cuidar que sigam o caminho do bem e incentivá-los a aprender cada vez mais sobre tudo o que for da área de interesse deles com dedicação, cobrando resultados.
Para encerrar, uma última história que não posso deixar de contar aqui e que ilustra bem como eu já pensava grande quando ainda era bem guri.
Na época que cursava o jardim de infância, fiquei tão inconformado quando descobri que só poderia aprender a ler e escrever quando completasse 7 anos, que fui conversar com o meu pai e pedi que ele, como presidente do conselho do Dante Alighieri, interferisse junto ao diretor para eu entrar na classe de alfabetização antes dos 7 anos.
Ele respondeu: “você precisa da licença da diretoria para realizar seu desejo e para isso acontecer, terá que falar pessoalmente com o diretor. Eu retruquei, “mas você não manda na escola?” e ele respondeu “eu não posso mandar, quem manda é o diretor executivo!”.
No dia seguinte, me enchi de coragem, entrei na sala do diretor, decidido a cumprir o meu objetivo e iniciei o curso de alfabetização aos seis anos de idade.
E assim agi a vida inteira e continuo agindo para aprender as coisas que me interessam.