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Os pais são os primeiros modelos de seus filhos. Através de suas ações, eles ensinam valores como responsabilidade, respeito e perseverança. Quando uma criança observa seus pais tratando os outros com respeito, superando desafios com determinação ou admitindo e aprendendo com os erros, ela absorve essas lições como normas de comportamento. Este aprendizado modelado é fundamental para o desenvolvimento de um ser humano preparado para viver a vida em toda a sua plenitude.
Quando uma criança sabe que pode contar com seus pais, em qualquer situação, ela se sente segura para tentar coisas novas e aprender com as experiências.
Pais precisam incentivar a criatividade dos filhos
Meu pai sempre incentivou a mim e aos meus irmãos a sermos curiosos, exploradores de possibilidades e dessa forma nos preparou para pensarmos de forma inovadora. Fez isso de uma forma tão simples quanto era brincar de montar carros, casas, navios, motos e tantos outros objetos com as peças do jogo Mecano. As iniciativas paternas contribuíram e muito para estimular a nossa imaginação e elevar a nossa autoconfiança.
Seu Ziro Ramenzoni, meu pai, não media esforços para buscar novidades para toda a família e vivia pesquisando as novas tendências através da leitura de revistas importadas, livros e jornais de várias partes do mundo. (Imagina só se ele vivesse nos dias de hoje, com tantas informações num piscar de olhos! Nem fecharia os olhos para dormir!)
Um dos lugares prediletos para nos apresentar novidades era o Mappin, uma famosa loja de departamentos localizada na Praça Ramos de Azevedo, bem em frente ao Teatro Municipal de São Paulo.
O Mappin se localizava em um imponente edifício de cinco andares, projetado pelo arquiteto Ramos de Azevedo, que se destacava por seu luxo, sua sofisticação e oferecia uma grande variedade de produtos importados, como roupas finas, perfumes, artigos para o lar e BRINQUEDOS.
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Eu realmente curtia bastante nossos passeios por lá, nos idos do final dos anos 40, principalmente quando isso acontecia aos domingos. Primeiro, nos deliciávamos com a variedade de guloseimas gostosas que eram servidas no salão de chá. Depois, percorríamos toda a loja e quando chegávamos na seção de brinquedos, nosso pai nos motivava a escolher os brinquedos educativos.
Quando ele encontrava algo que já havia tomado conhecimento em suas pesquisas, nos explicava mais sobre o brinquedo e insistia para que escolhêssemos aquele determinado brinquedo.
Nossas idas ao Mappin ainda têm lugar de destaque no meu banco de memórias. Lembro da arquitetura imponente, das grandes vitrines, das escadarias, dos desfiles de moda que apreciava ao lado da minha mãe, deslumbrado com tamanha beleza. Era muito bom!
E as lembranças não param por aí. Os meus olhos também brilhavam diante da seção de bicicletas da Loja Sears, no bairro de Água Branca. Foi numa Sears que compramos minha bicicleta Monark, que eu freava pedalando no sentido contrário.
Através de passeios e brincadeiras, meu pai e minha mãe nos ensinavam a importância de aprender a equilibrar o compromisso de estudar e o tempo de se divertir (mais tarde adaptei essas regras para equilibrar trabalho e lazer). Esses limites também me ajudaram a desenvolver meu senso de responsabilidade e de organização.
Como são emocionantes essas lembranças da minha infância e quanta saudade eu sinto dos meus pais…
Minha mãe tinha muita paciência com os quatro filhos, gostava de nos chamar por apelidos carinhosos (o meu era Coca), mas imaginem três meninos e uma menina correndo para lá e para cá, aprontando todas, fechados dentro de casa em dia de chuva, cheios de energia para gastar. Não era fácil!
E foi num desses dias, quando ela já estava perdendo a paciência, que decidiu nos levar para um passeio de carro até a Rua Augusta para visitarmos uma loja de brinquedos recém-inaugurada, da qual esqueci o nome, mas jamais vou esquecer o que aconteceu nesse dia chuvoso.
O motorista da família estava ocupado realizando outra tarefa e minha mãe resolveu ligar para o ponto de táxi próximo de nossa casa, que ficava na frente do Hospital Esperança.
Pouco tempo depois do telefonema, chegou o nosso chofer, Periquito, que era pai de nossos amigos de brincadeira de rua, e tinha esse apelido porque dirigia um Chevrolet 1938, na cor verde.
Entramos os quatro e sentamos no banco de trás: eu, meus dois irmãos Lamberto e Virgílio e dona Julietta, minha mãe. (A minha irmã Lucia ficou em casa com a babá.)
Chovia muito nesse dia e quando o Periquito começou a descer a rua Augusta, ele derrapou em cima dos trilhos e bateu no bonde. Minha mãe, que já estava azucrinada com a nossa bagunça, não se fez de rogada e bateu o guarda-chuva na cabeça do motorista, como forma de mostrar toda a sua indignação diante do acontecido. Nós ríamos muito porque o guarda-chuva se partiu em dois e o coitado do Periquito não sabia como se desculpar.
Claro que essa história foi recontada na mesa de jantar inúmeras vezes, e nosso pai se divertia bastante sempre que essa cena vinha à tona e dizia “posso bem imaginar como ela ficou braba.”
Outro ponto positivo no nosso desenvolvimento mental e físico era o incentivo aos esportes. Nosso pai nos apoiou muito para que participássemos nas competições de barcos a remo, aprendizado que mais tarde também repassei aos meus filhos.
Ele chegou a importar um “marinheiro particular” diretamente da Itália, o Pietro Baldassari, para nos ensinar a pilotar os barcos. Nosso mestre náutico era sogro do famoso pintor e ilustrador italiano Danilo Di Prete, premiado em segundo lugar na Segunda Bienal Paulista de Arte, que era casado com sua filha Pierina.
As lembranças de uma infância repleta de aventuras, aprendizados e momentos de pura alegria, guiadas pela mão segura e amorosa de pais dedicados, ressoam com uma doçura que o tempo não consegue apagar. Essas memórias, mais do que simples recordações, são testemunhas de uma educação moldada pela criatividade, pelo incentivo à inovação e pela valorização do equilíbrio entre responsabilidades e diversão. Meus pais, com suas ações e ensinamentos, não apenas nos prepararam para enfrentar o mundo com confiança e responsabilidade, mas também nos ensinaram a importância de nutrir a imaginação e perseguir nossos sonhos com determinação.
Através dos passeios, das brincadeiras, dos incentivos à leitura e aos esportes e à exploração do novo, meus pais plantaram em nós a semente da curiosidade e da paixão pelo aprendizado. Esses momentos, embora possam parecer simples ou cotidianos, foram as bases sobre as quais construímos nossas vidas e carreiras, sempre guiados pelos valores de respeito, perseverança para atingir os objetivos e amor pelo conhecimento.
Ao lembrar desses tempos preciosos, gostaria de provocar uma reflexão de que o maior legado que podemos deixar para os filhos são os exemplos do que fizemos no decorrer de nossas vidas, das decisões que tomamos, das nossas atitudes diante dos fatos e circunstâncias. Isto tudo somado tem valor inestimável pois será passado adiante para as próximas gerações.
E vida que segue! Até a próxima!
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