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Aos sete anos, eu aprendi a velejar. Meu pai era um velejador inveterado e acreditava que todo membro da família deveria dominar a arte de navegar.
Naqueles primeiros dias na represa Guarapiranga, eu tensionava cada músculo tentando manter o Pelicano na rota que eu achava ser a correta. Tratava-se de um barco nada pequeno para o meu tamanho, de uma vela e pertencia à classe olímpica. “Seja forte!”, eu repetia para mim mesmo, as mãos doloridas de tanto segurar as escotas (as cordas da vela).
Foi então que meu pai, com a sabedoria de quem já havia enfrentado muitos desafios no mar, disse suavemente: “Filho, não lute contra o vento. Sintonize-se com ele. Você precisa aprender a saber de onde vem o vento. Vire seu nariz para sentir a direção do vento, ouça-o nas suas duas orelhas, girando a cabeça devagar. Sinta o vento batendo nas suas orelhas. Ajuste. Coloque o dedo indicador à frente do nariz e é exatamente aí que o vento estará. E procure nunca se esquecer de algo importantíssimo: quem melhor souber de onde vem o vento, ganhará a regata.”
Naquele momento, algo mudou. Não apenas na minha forma de velejar, mas na minha visão de mundo.
Somos ensinados desde cedo que ser forte é não ceder, não quebrar. Construímos muros ao redor de nossas ideias, de nossos planos, de nossas expectativas. Acreditamos que isso nos protegerá das intempéries da vida.
Mas e se a verdadeira força estiver justamente na capacidade de ajustar nossas velas conforme o vento muda?
Pense em um veleiro enfrentando uma tempestade. Ele não tenta cortar as ondas em linha reta. Ele ziguezagueia, aproveitando cada rajada de vento, cada movimento do mar. É essa adaptabilidade que o mantém à tona, que o leva ao seu destino.
A vida é uma sucessão de ventos inesperados. Planos desmoronam, relacionamentos se transformam, carreiras tomam rumos imprevistos. Diante disso, temos duas opções:
- Resistir com toda a força, agarrando-nos ao que conhecemos;
- Ajustar nossas velas, adaptando-nos como um hábil velejador que lê os sinais do mar e do céu.
A segunda opção exige coragem. Paradoxalmente, é preciso ser forte para ser flexível.
Carreguei essa lição comigo pelos anos seguintes. Nas competições de vela da juventude, aprendi que os ventos contrários não eram obstáculos, mas oportunidades para desenvolver novas técnicas de navegação. Os bordos que fazíamos contra o vento muitas vezes nos levavam a descobrir correntes favoráveis que os outros competidores, em suas rotas diretas, jamais encontrariam.

E isso me faz lembrar uma decisão difícil que tive que tomar no início dos anos 90, em plena crise do Plano Collor, na qual precisei fazer um realinhamento no pagamento dos impostos para vencer as turbulências econômicas do período. Na condução dessa decisão posso dizer que eu não fui forte apesar de minha flexibilidade. Eu fui forte por causa dela, porque não poderia deixar de pagar os meus funcionários e fornecedores.
A flexibilidade não significa renunciar a nossos valores, princípios ou objetivos. Significa estar aberto a novos caminhos para alcançá-los. Significa ouvir, aprender, evoluir.
É entender que, às vezes, dar um passo para trás nos permite saltar mais longe. É reconhecer que nossas fraquezas podem se tornar nossas maiores forças. É aceitar que nem sempre teremos as respostas, mas que podemos sempre fazer as perguntas certas.
Em tempos de transformações rápidas como os que vivemos hoje, saber içar, recolher ou ajustar nossas velas é mais importante do que nunca. As tecnologias mudam, os mercados se transformam, as relações se reconfiguram. Quem se agarra rigidamente ao passado acaba como um barco ancorado, vendo a vida passar ao longe.
No fim, a verdadeira força não está em resistir à mudança, mas em abraçá-la. Não está em permanecer imóvel, mas em caminhar com passos alinhados com a vida em seu fluxo imprevisível.
Então, fica aqui mais uma reflexão aperfeiçoada no decorrer de mais oito décadas, quando a vida lhe apresentar um desafio, lembre-se: “não há de ser forte, há de ser flexível”, como nos ensina um antigo provérbio chinês.
Respire fundo, solte os ombros e permita-se fluir. Você pode descobrir que sua maior força sempre esteve na sua capacidade de dobrar-se sem quebrar, assim como a vela que, ao se curvar ao vento, captura sua força e transforma-a em movimento.