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Otimismo, uma escolha diária
Há pessoas que nasceram olhando para o céu, enquanto outras já vieram ao mundo com os olhos fixos no chão. Winston Churchill, em sua sabedoria que atravessou guerras e reconstruções, dizia que “o pessimista vê dificuldade em cada oportunidade, o otimista vê oportunidade em cada dificuldade”. E eu, que carrego meus 86 anos com a mesma empolgação da criança que fui, posso atestar a veracidade dessas palavras.
Considero-me um mestre em otimismo. Não digo isso com arrogância, mas com a tranquila certeza de quem fez dessa escolha um hábito diário. É curioso como consigo identificar rapidamente um pessimista. São geralmente pessoas que parecem carregar o mundo nas costas, que não se iluminam com facilidade, que sofrem por antecipação. Diante do menor desafio, já anunciam a derrota: “Não sei fazer isso”, “Não vai dar certo”, “É impossível”.
Quando ouço essas negativas, meu instinto é sempre o mesmo: “Vamos aprender, então! Vamos resolver o problema!” O pessimismo me causa uma coceira na alma, uma inquietação. Tanto que costumo brincar: “Para com esse pessimismo, senão não posso ficar com você, porque sou otimista e vamos acabar brigando.” Na verdade, o que estou dizendo é: tudo tem solução, se você realmente quiser.
Mas você deve estar se perguntando: nascemos assim, otimistas ou pessimistas? Ou aprendemos a ser? Acredito que existe sim uma predisposição natural, mas também tenho certeza de que podemos mudar, podemos nos reinventar.
E será que eu sempre fui otimista? Uma história da minha infância talvez responda essa pergunta. Aos sete anos, eu sonhava com uma motocicleta. Não um brinquedo qualquer, mas uma moto de verdade. Meu pai, com aquela paciência característica dos pais que amam e educam, sempre dizia: “Agora não vai dar”, “Não estou encontrando para comprar”, “Não sei se é o melhor momento”.
Enquanto isso, nosso vizinho Paulinho Villares, filho do Dr. Luís Dumont Villares, possuía uma scooterzinha Willys, dessas pequenas motos que eram lançadas de paraquedas durante a Segunda Guerra para os soldados se locomoverem no campo de batalha. A roda era pequena, e bastavam dois parafusos para montá-la por completo. Paulinho costumava andar na frente da minha casa, e às vezes me convidava para dar uma volta.
Depois dessas experiências mágicas, eu voltava para casa com os olhos brilhando e insistia muito com o meu pai: “Poxa, Papá, compra uma moto igual à do Paulinho para mim, por favor, diz que sim, diz que sim!” Percebi, então, que meu pai não era contra a ideia; ele simplesmente não estava encontrando uma moto como aquela, mesmo pedindo ajuda aos seus amigos americanos.
Até que um dia, ele me propôs um acordo: “Se você for bonzinho e passar direto na escola, eu vou te dar a moto.” Contexto importante: eu havia entrado no Jardim de Infância aos quatro anos para acompanhar meu irmão mais velho, Lamberto, e quando fui para a primeira série, sentia saudades das brincadeiras e resistia aos estudos.
Prometi ser um bom aluno e, finalmente, meu pai conseguiu a moto com a ajuda do Dr. Doiban, que encontrou uma motocicleta para criança. Para vocês terem ideia, a roda tinha apenas 12 polegadas de diâmetro e era bem grossa. Possuía um motor de bomba de poço, um acelerador e um freio. Só isso. Foi assim que ganhei minha primeira moto americana Iawata, que depois substituí por outras maiores à medida que crescia. E até hoje, aos 86 anos, continuo escolhendo as motos mais apropriadas para meus passeios com os amigos.
O que quero que entendam dessa história não é apenas o fascínio infantil por uma motocicleta, mas a certeza inabalável que habitava em mim: “Sim, eu vou conseguir, é só uma questão de tempo e ela vai chegar!” E chegou. (Verdade que depois comecei a correr tanto pelo bairro que minha mãe mandou a moto para a chácara, permitindo que eu a usasse apenas nos finais de semana e nas férias – mas isso é assunto para outro dia).
Então, respondendo àquela pergunta inicial: sim, acredito que sempre fui otimista. Mas e quem não nasceu assim? Como fazer para enxergar oportunidades onde outros veem apenas dificuldades? A resposta está em não ter medo de enfrentar problemas. E aqui vai uma dica importante: a vida é aquilo que você consegue realizar no momento. Se você conseguir fazer 50% das coisas necessárias, está bom! Continue se aperfeiçoando para aumentar esse percentual.
Não se cobre tanto nem queira alcançar 100% de perfeição – isso é impossível, e a frustração de não atingir essa meta pode te deprimir severamente, impedindo que realize seus objetivos. Pense no modelo escolar: qual é a média para passar de ano? Geralmente, acima de 50%. Então, você precisa saber mais da metade do conteúdo para seguir em frente. Procure sempre melhorar seu desempenho até o limite que puder alcançar; assim, manterá o otimismo vivo.
Lembre-se sempre da palavra “sim”. O “sim” pode eventualmente se transformar em “não” no futuro – porque você não conseguiu, porque não teve recursos suficientes, ou porque mudou de ideia. Mas, em princípio e por princípio, diga sim para você mesmo. Aprenda a falar sim para suas possibilidades.
Errou? Tente de novo. Prepare-se melhor, mas repita para si: “Sim, eu vou conseguir!” “Mas eu já tentei várias vezes e não deu certo.” Tente novamente! Meu pai sempre dizia que quando realmente queremos fazer algo, conseguimos. E eu assino embaixo dessa afirmação.
O que faz uma pessoa passar a ver oportunidade em cada dificuldade é ela dizer sim primeiro para si mesma e mudar seu padrão mental. Sim, sim, mudar! Você só pode dizer não depois de ter visto, estudado, feito e refeito, até se certificar de que aquele caminho específico não funciona e que precisa ajustar alguma variável.
Em minha própria trajetória, várias situações relacionadas à saúde foram superadas através do otimismo. Por mais desafiador que seja o problema, a vontade de sarar suplanta qualquer procedimento necessário. O otimismo de recuperar a saúde é sempre muito maior que a angústia de não melhorar. Claro que no momento de receber diagnósticos difíceis, fico abalado, ansioso, às vezes triste e desconcertado. Mas logo me “conserto” – digo a mim mesmo: “Vou conseguir passar por mais essa! Meu corpo precisa se reabilitar para que eu tenha uma vida melhor, e sim, eu vou conseguir.”
Lembro-me que na minha juventude, tanto as professoras quanto minha mãe sempre enfatizavam a importância da “força de vontade”. “Dante, você precisa ter força de vontade!” É um termo que talvez tenha caído em desuso, mas continua sendo um remédio certeiro para cultivar o otimismo e espantar a preguiça.
Olhando para trás, percebo que o otimismo não é apenas uma característica de personalidade, mas uma escolha diária. É um músculo que precisamos exercitar constantemente. Quando decidimos enxergar possibilidades onde outros veem apenas obstáculos, não estamos negando a realidade – estamos apenas escolhendo como queremos interagir com ela.
A pequena motocicleta da minha infância me ensinou mais do que andar sobre duas rodas. Ensinou-me que a persistência, aliada à crença nas possibilidades, pode transformar sonhos em realidade. E que o “sim” dito com convicção para nós mesmos tem o poder de abrir portas que nem sabíamos que existiam.
Como diria Churchill, cada dificuldade traz consigo a semente de uma oportunidade. Cabe a nós decidir se queremos cultivá-la ou deixá-la morrer. E você, o que escolhe hoje?