Reflexões de um avô apaixonado

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Sabe aquela frase que Benjamin Franklin escreveu sobre a paz e a harmonia serem a maior riqueza da família? Pois bem, depois de décadas vendo famílias que se amavam profundamente virarem inimigas por causa de uma simples herança, posso garantir: o velho Benjamin sabia exatamente do que estava falando. E olha que ele nem conheceu o drama de tentar organizar um almoço de domingo com mais de vinte pessoas, onde metade está envolvida em algum conflito familiar e a outra metade tenta conciliar. 

O dilema universal que todos enfrentamos

A questão é que todo mundo deseja viver essa harmonia, mas pouquíssimos conseguem mantê-la por muito tempo. É como tentar equilibrar pratos no circo, requer habilidade, paciência e, principalmente, muito bom senso.

Quando os filhos são pequenos, as coisas parecem mais simples. Mas aí vem o tempo, os filhos se casam, chegam noras e genros com suas próprias famílias e tradições, nascem os netos… E de repente, a mesa precisa esticar para caber todos em uma refeição.  

É natural que surjam atritos. Alguns moram longe, outros são muito ocupados. Tem aquele que só liga de vez em quando, quando precisa de alguma coisa, e tem o que liga todo dia para saber como estão as coisas. A comunicação fica mais difícil, as diferenças de opinião mais evidentes.

O fantasma que assombra todas as famílias

Mas se tem uma coisa que pode destruir a harmonia familiar mais rápido que uma bomba, é a questão da herança. Nossa Senhora! Já vi famílias que se amavam profundamente virarem inimigas mortais por causa de uma casa, um terreno, até mesmo por uma simples aliança da vovó.

Por isso, aprendi uma lição valiosa com o meu pai: deixar tudo certinho, tudo escrito, tudo resolvido. Não é pessimismo, é realismo. É eliminar qualquer tipo de coisa que possa dar desconforto para os descendentes. Porque, acreditem, quando a emoção da perda se mistura com questões materiais, até os filhos mais amorosos podem se transformar em estranhos.

Os repositores de paz e alegria

Mas nem tudo são espinhos no roteiro familiar! Os almoços de domingo, as festas de Natal, os aniversários, o Dia dos Pais, esses são os verdadeiros repositores de paz e energia de uma família. É nesses momentos que a mágica acontece.

Aqui em casa, especialmente na nossa casa de campo, viro uma espécie de “hotel dos avós” durante as férias. Os netos chegam, e muitas vezes trazem os amiguinhos junto. E que alegria é essa!

Lições de um avô aprendiz

Descobri que ser avô é uma profissão que você nunca termina de aprender. Os netos menores requerem mais atenção – estão sempre correndo, se machucando, chorando por qualquer coisa. Já os maiores, especialmente os adolescentes, trazem outros desafios: querem mais independência, mas ainda precisam de orientação.

E as diferenças entre meninos e meninas! Os meninos parecem ter uma energia inesgotável para bagunça e aventura. As meninas, bom, também têm energia de sobra, mas já demonstram uma maturidade emocional que me impressiona.

Tem dias que termino exausto, confesso. Mas também tem dias que fico observando eles brincarem, rindo daquelas bobagens que só criança acha graça, e meu coração se enche de uma alegria que não consigo explicar.

A sabedoria dos pequenos

Sabe o que mais me fascina nas crianças? Elas ainda não aprenderam as “maldades” do mundo. Não sabem guardar rancor, não sabem ser falsas, não sabem discriminar. Para elas, o importante é se divertir, aprender coisas novas e receber carinho.

Quando vejo meus netos brigarem de manhã e estarem brincando juntos à tarde como se nada tivesse acontecido, penso: “Se os adultos soubessem perdoar assim…”

O bom senso como bússola

Ao longo dos anos, aprendi que quando surgem problemas familiares, e eles sempre surgem, a única saída é ter bom senso e usar o bom senso. Nem sempre conseguimos deixar todo mundo 100% contente, mas podemos nos esforçar para deixar todos mais ou menos satisfeitos.

Às vezes é preciso ser muito paciente, entender que cada geração tem sua forma de ver o mundo, e que nosso papel é orientar sem impor, aconselhar sem controlar.

A riqueza que realmente importa

No final das contas, Benjamin Franklin estava certíssimo. A verdadeira riqueza de uma família não está no que deixamos de herança material, mas na harmonia que conseguimos cultivar, no afeto que plantamos, na comunicação que mantemos viva.

Porque, sejamos honestos: de que adianta ter muito dinheiro no banco se a família está despedaçada? De que serve uma casa grande se ela está vazia de amor e risadas?

A ausência de afeto e diálogo pode ser muito mais empobrecedora que a falta de recursos materiais. Por isso, sigamos buscando esses momentos de convivência alegre, valorizando cada refeição em conjunto, cada festa, cada passeio.

E assim, entre altos e baixos, risos e alguns pequenos dramas, vou aprendendo que a arte de manter uma família unida é como cuidar de um jardim: exige paciência, dedicação diária e, principalmente, muito amor. Porque no final, são essas pessoas, com todas as suas imperfeições e diferenças, que tornam nossa existência verdadeiramente rica e significativa.

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