Será que podemos comparar essa pandemia com uma guerra?

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Nesses tempos de segunda onda pandêmica, muita gente tem comparado o que está acontecendo pelo mundo por conta do ataque do coronavírus com os cenários enfrentados durante a Segunda Guerra Mundial.

Afinal, ser obrigado a ficar em casa por tempo indeterminado, não ter mais o direito de ir e vir ou mesmo tentar viajar para se proteger em um lugar mais seguro, temer um inimigo que está a espreita e viver com medo da morte, são cenas que lembram e muito a atmosfera provocada por uma guerra. 

Concordo. O dano causado pela passagem do coronavírus pelas nossas vidas até o momento é, sem dúvida, vasto; porém, arrisco dizer, hoje, não parece, nem de longe, comparável ao estado em que a Europa se encontrava depois de 1945.

Além das mortes, da falta de alimentos, da deficiência nos transportes, existia um outro desafio muito sério após a guerra que era a falta de moradia, afinal inúmeras residências foram destruídas com os bombardeios.

No início da Segunda Guerra, meus avós paternos já haviam retornado para a Itália e eles se dividiram em duas localidades para escapar ilesos do confronto:  na casa de campo da família, na cidade de Cison, entre Roma e Torino; e em Montepulciano, cidade na região da Toscana, onde a tia Clia, irmã mais jovem do meu pai, casada com o Dr. Bonaldo Maroco, mantinha sua residência.

Apesar de ser bem menino, lembro-me dos meus pais comentando essas e outras histórias dos tempos de guerra mundial e vou deixar a mais interessante delas para contar no final desse post.

No início dos anos 2000, para reviver essas e outras histórias familiares,  fiz duas viagens de moto pela Itália e visitei essas duas casas que serviram de refúgio de guerra e também a belíssima casa que meu avô construiu em Gardone Riviera, no lago de Garda.

Relembrar essas cenas da minha infância, ajuda a renovar a esperança de que vamos sair dessa segunda onda fortalecidos, afinal podemos também interpretar tudo isso como uma segunda chance para fazermos a coisa certa e vencermos mais esse desafio.

O que a pandemia atual e a guerra inegavelmente têm em comum é que ambas são situações de crise e, como tal, pedem uma mudança radical – esta é uma lição clara de história.

Como bem disse Bill Gates, “não podemos nos dar ao luxo de ser pegos de surpresa de novo, para evitar que as dificuldades do Covid voltem a acontecer, a preparação para uma pandemia deve ser levada tão a sério quanto levamos a ameaça de guerra.”

E agora, uma curiosidade do fundo do baú

Uma guerra entre nações é sempre um acontecimento que provoca grandes transformações na sociedade, seja na economia, na cultura como também no campo tecnológico e nas formas de comunicação.

Durante a Segunda Guerra Mundial não foi diferente e alguns meios de comunicação tiveram uso estratégico tanto por militares quanto por civis. Os rádios transmissores e os radares dos sistemas de navegação, tanto marítimos quanto aéreos, tornaram-se notáveis utensílios estratégicos nos anos 1940.

Meu pai, sempre antenado com as novas tendências, adquiriu um rádio amador e o instalou no último andar da nossa casa, à época localizada na rua dos Franceses. (Ninguém podia entrar nesse espaço!)

Ele usava esse equipamento para se manter informado sobre os familiares que estavam na Itália, principalmente para acompanhar a lista de mortos, que era divulgada a cada dois dias.  

Só que, em períodos de guerra, era proibido ter e operar rádio amador, porque isso poderia significar receber e enviar informações indevidas ou perigosas.

E como sempre tem alguém para espionar a vida dos outros, um dia apareceu a polícia na nossa casa e prenderam o meu pai. “O senhor está atuando clandestinamente, supõe-se que com a intenção de trair a sua pátria em favor de uma nação inimiga!” (Estava acusando o meu avô de ser quinta coluna.)

_ “Imagina, meus familiares moram na Itália e estou aqui acompanhando para ver se aconteceu algo de pior com algum deles…”

Não teve argumento que convencesse os policiais e meu pai passou o dia na prisão, até seu que seu advogado conseguiu libertá-lo. Tudo por conta de ter um rádio amador!

Por que se chamava rádio amador?

A história do rádio amador nasceu junto com o nascimento do rádio e da tecnologia sem fio.

Quando a tecnologia de rádio começou a aparecer, muitas vezes não havia distinção entre profissional e amador. Como o rádio costumava ser considerado apenas um fenômeno interessante, para o qual havia pouco uso, muitos cientistas e engenheiros profissionais não o exploraram como poderiam (embora alguns o fizessem), e isso abriu caminho para amadores curiosos.

Até a próxima!

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