Mentira pode levar à falência

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Aprendi a entender a importância de contar a verdade ainda nos tempos de menino, primeiramente com os meus pais, depois através dos ensinamentos de alguns excelentes professores particulares que tive para reforçar a matéria passada nas aulas do Colégio Dante Alighieri. Com eles comecei a entender que seria um trabalho árduo e insano ter que inventar um monte de coisas para sustentar as falas mentirosas.

Quando falamos mentiras, precisamos nos lembrar das coisas que inventamos e isso é bem mais estressante do que falar a verdade.

Meus pais diziam “a verdade pode ser muito cruel, mas é melhor trabalhar com a verdade do que com a mentira, porque a mentira pode te levar à falência”.

Família Ziro Ramenzoni tinha esse tipo de ensinamento e é isso que vou compartilhar com vocês hoje!

Quando crianças mentimos, porque queremos inventar que fizemos o que não fizemos. A imaginação é fértil.

Na infância, a mentira é um modo de satisfazer, para nós mesmos ou perante os outros, uma necessidade ou alcançar um desejo secreto, que existe apenas na nossa imaginação. Por exemplo, o menino conta que subiu em uma árvore enorme para pegar a pipa que se prendeu no último galho e isso só aconteceu no mundo das ideias dele! A mentira funciona como uma varinha de condão!

Hoje, pensando melhor sobre o sentido de que mentir pode levar à falência, entendo que eles não se referiam apenas ao sumiço do dinheiro, mas também à falência emocional, espiritual e dos relacionamentos, principalmente os familiares.

E isso começou a ficar bem claro para mim nos tempos escolares, quando chegava a hora de apresentar o boletim das notas para os meus pais. De nada adiantava eu mentir que estava cumprindo todas as tarefas escolares e me dedicando com afinco aos estudos, porque quando chegava a hora da verdade, o desempenho mediano em algumas matérias falava por si só. (Não adiantava postergar a entrega do boletim, por que uma hora teria que acontecer!)

E foi nos tempos de criança também que eu aprendi que ao falar a verdade eu não seria castigado, mas sim, teria novas oportunidades de fazer a mesma coisa com os novos ensinamentos adquiridos. 

Simples assim! Não importava se eu havia feito por querer ou sem querer, eu era perdoado mais facilmente e o relacionamento familiar seguia numa boa, com o clima leve. Essa que é a verdade!

Meu irmão Virgilio, por exemplo, tinha umas ideias bem diferentes… ele gostava de realizar suas experiências sobre as leis da Física atirando pedras de gelo na vidraça do vizinho para medir força, ângulos, distância etc. Um dia, o vizinho viu que os disparos vinham da casa do Sr. Ziro Ramenzoni e não teve como enrolar o meu pai. Ele é que enrolava um monte de cordas nas mãos e dava nas nossas pernas, como forma de dizer: “da próxima vez, conta a verdade!”

Crescemos com o pensamento de que, se falássemos a verdade, poderíamos escapar do castigo ou ele seria menor e isso me acompanhou a vida inteira. Não há necessidade de mentir porque dá muito trabalho!

Curiosamente, há poucos dias eu vi na internet uma matéria que mostrava a história de 30 pessoas, que foram as mais ricas de seus países e perderam tudo, foram à falência e muito provavelmente isso aconteceu por dois motivos: ou mentiram ou sofreram mentiras de seus principais executivos. (Para ilustrar o que estou dizendo é só relembrar o que aconteceu com os Matarazzo, com o Eike Batista e tantos outros, aqui no Brasil. Show de mentiras só para conseguir patrocinadores de suas ideias mirabolantes.)

No meu caso, o curioso é que eu sigo ouvindo a fala dos meus pais ecoando na minha cabeça “é melhor falar a verdade do que mentir. Mentira tem pernas curtas!”

E tem mesmo! Por isso se eu não posso falar alguma coisa, se não tenho argumento plausível, prefiro ficar quieto do que contar uma história diferente da realidade. (Não confio muito na minha memória, vai que me enrolo nos argumentos! Odeio ser pego com a boca na botija, como dizia minha avó.)

A essência da minha família era falar a verdade, a qualquer custo. Essa postura era adotada em casa e também no trabalho, onde procuravam sempre oferecer produtos de qualidade inquestionável.

Uma vez, conversando com o meu pai, ele me disse que fazia chapéus e camisas de excelente qualidade, para que, de fato, durassem dez vezes mais do que os produtos da concorrência, ao que eu perguntei: “por que você faz tanta questão disso?  “Porque eu tenho um nome a zelar!” Isso diz tudo!

Ainda moleques, eu e meus irmãos pegávamos a perua GMC do meu pai para darmos umas voltas e ele fingia que não via, pois entendia e queria que fizéssemos novas descobertas, aprendêssemos por iniciativa própria.

Pois bem, em uma dessas aventuras, saímos eu, meu irmão Lamberto que estava guiando, Virgilio e mais uns 3 ou 4 amigos e tivemos a brilhante ideia de derrubar uma casa de madeira de um loteamento distante de nossa casa e que servia de stand de vendas para atrair clientes para a aquisição dos lotes que ainda estavam disponíveis. “Vamos derrubar essa casa?” “Só se for agora!”

Colocamos uma roldana na casa, outra no carro e puxamos a corda. A casa caiu! Literalmente. Por que quando chegamos em casa, seu Ziro veio com a seguinte conversa:

_ Onde vocês estavam?

_ Passeando pelo bairro.

_ Vocês sabiam que derrubaram uma casa aqui no bairro e foi com uma perua verde!

_ Mas não fomos nós.

_ Vocês já foram identificados. Todo mundo viu que foram vocês.

E não teve pernas pra que te quero que pudesse conter as cordas que cantavam afinadas nas mãos do meu pai, que disse:

_ Se vocês tivessem admitido o que fizeram, a história seria outra.

E na sequência, o papai assumiu todo o prejuízo causado pela nossa “travessura”.

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